Tenho um bocado de vergonha do que vou contar a seguir mas é a verdade.
Nasci numa família de gente tarada por passarada: desde trisavô e bisavô criador de canários exóticos, tio-avô e avó paterna columbófilos premiados, quatro gerações no comércio de aves para consumo alimentar, avô e pai e tios caçadores ... e herdei até a caçadeira de um doa meus avôs paternos.
Pois que tenho medo de pássaros.
Mexer nas penas dos bichos, os olhos vidrados a olharem para o brilho dos meus olhos com biquinhos de brilho metálico afiados e prontos para me furarem as meninas dos olhos assim eu me distraia ... é quanto basta para me subirem os níveis de adrenalina a pontos de me envergonhar a mim mesma e às almas que estiverem por perto.
Mas depois que lhes tiram as penas (também tiro, mas tenho de as molhar primeiro; a seco desato a espirrar e ... não é bonito) ... podem vir para a minha mãozinha, com tripa e tudo, que eu trato. E de os amanhar, cortar e cozinhar então, adoro.
Lá na quinta temos uma capoeira, uma gaiolona para piriquitos e caturras (bicos curvos), uma gaiolona para canários mandarins e afins de bico direito e um passaródromo.
O passaródromo é, na verdade, uma casa grande com paredes e tecto de rede e alberga: um pombal com pombos (de rabo de leque e mais rabos cujo formato me escapa agora), rolas, codornizes e codornizes da Austrália, uma pavão e duas pavoas, patos mudos, patos mandarins, faisões do Egipto e outros que também têm mau feitio e olham para mim de esguelha ... enfim.
Respiro fundo para entrar lá dentro e levo sempre sapatos fechados e um pau na mão.
Tal como eu na sua idade, o meu filho mais velho não entra lá dentro. Já a mais nova ... põe aquela maralha toda a voar ou a vir comer-lhe à mão.
Borrachos de pombo estufados com óregãos e sálvia
Foi feita a quatro mãos!
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